Por
Taciano Cassimiro
INTRODUÇÃO
Pecado, embora esteja
em evidencia na sociedade moderna, não costuma ser um tema popular, pra não
dizer agradável. Entre os cristãos o tema também não é muito bem vindo. Certa ocasião
ministrava uma série de palestras sobre o assunto.Quando notei que uma irmã e
dois irmãos deixaram de vir a igreja. Procurei saber o motivo. Ao visita-los as
respostas foram – o senhor anda muito bravo, ficamos constrangidos,
aborrecidos, então pra não pecar prefiro ficar em casa.
Outro afirmou - gostamos mais quando o senhor faz a gente ri, fala de amor e
alegria. Reações como essas são comuns quando a mensagem da realidade do pecado
é pronunciada.
No entanto devemos ser fiéis Aquele que nos
chamou, e como dizia o puritano John Owen (1616-1683) “ o pecado precisa ser vigiado e resistido “. Também não podemos esquecer que estamos
alimentando ovelhas, e não entretendo os bodes.
I.
O QUE É PECADO?
Millard J. Erikison
nos dá a seguinte definição “ Qualquer ação, atitude ou disposição que fracasse
em cumprir ou alcançar de modo completo os padrões da justiça de Deus. Pode ser
uma transgressão real da lei de Deus ou uma falha em viver segundo as normas
suas normas”.
O teólogo sistemático reformado Louis Berkhof (1873-1957) cujas obras têm sido muito influentes na teologia calvinista da América
do Norte e da América
Latina nos trás as seguintes definições em hebraico e grego:.
HEBRAICO
·
Chatta `th – pecado como um efeito que
erra o alvo e que consiste num desvio do caminho certo.
·
Avel e `Avon – indicam que é uma falta
de integridade e retidão, uma saída da vereda designada.
·
Pesha – uma revolta ou uma recusa de
sujeição à autoridade legítima, uma positiva transgressão da lei, e um
rompimento da aliança.
As
palavras gregas do Novo Testamento
correspondentes, como hamartia, adikia,
parabasis, paraptoma, anomia e paranomia e outras, indicam as mesmas ideias.
O
Catecismo Maior de Westminster na
pergunta, 24. Que é pecado? Define da seguinte forma: Pecado é qualquer falta de conformidade com a lei de Deus,
ou a transgressão de qualquer lei por Ele dada como regra, à criatura racional.
Rom. 3:23; 1 João 3:4; Gal. 3:10-12.
Segundo Santo Agostinho, o pecado é "«uma palavra, um ato ou um
desejo contrários à Lei eterna»", causando por isso ofensa a Deus e ao
seu amor.
A Igreja Católica Apostólica Romana
formulou uma lista de pecados no final do século VI, durante o papado de Gregório
Magno conhecidos como os
Sete Pecados Capitais, são eles:1. Luxúria:
apego e valorização extrema aos prazeres carnais, à sensualidade e sexualidade;
desrespeito aos costumes; lascívia. 2. Gula: comer somente por prazer, em
quantidade superior àquela necessária para o corpo humano.
3. Avareza: apego ao dinheiro de forma exagerada, desejo de
adquirir bens materiais e de acumular riquezas. 4. Ira: raiva
contra alguém, vontade de vingança. 5. Soberba: manifestação de orgulho e
arrogância.
6. Vaidade: preocupação excessiva com o aspecto físico para conquistar
a admiração dos outros. 7. Preguiça:
negligência ou falta de vontade para o trabalho ou atividades importantes.
Biblicamente encontramos os pecados de Comissão
e Omissão:
Comissão – quando fazemos deliberadamente o que não devíamos
fazer, 1 Jo 3.4
Omissão – quando deixamos de fazer o que deveríamos,Tg
4.7
Também é interessante notar que a Bíblia
apresenta a lista de “ sete pecados “ destestáveis: “ Há
seis coisas que o Senhor detesta; sim, há sete que ele abomina: 1 olhos altivos, 2 língua mentirosa, e 3
mãos que derramam sangue inocente; 4
coração que maquina projetos iníquos, 5
pés que se apressam a correr para o mal; 6
testemunha falsa que profere mentiras, e 7
o que semeia contendas entre irmãos” Pv 6.16-19.
Em suma pecado na Bíblia é:
Ø
Transgressão da lei 1 Jo 3.4
Ø
Falta de conformidade Gl 3.10,12
Ø
Deixar de fazer o bem Tg 4.17
Ø
É ausência de santidade 2 Co 7.1; Ap 4.8
II.
ORIGEM DO PECADO
Agora chegamos a um dos pontos mais polêmico do
estudo, pois como explicar a origem do pecado. Como ele se originou? Quem
cometeu o primeiro pecado? Deus? o diabo? Ou o homem?
A Enciclopédia Histórico-Teológica ao tratar do assunto diz
o que segue “ A origem do pecado realmente é um mistério e está ligada com o
problema do mal. A história de Adão e Eva não oferece-nos uma explicação
totalmente satisfatória do pecado nem do mal ( não foi essa a intenção da
história ), mas recentemente lança luz sobre a dificuldade humana universal.
Essa história nos conta que antes do pecado humano havia o pecado demoníaco que
forneceu a ocasião para a transgressão humana. A teologia ortodoxa, tanto
católica como protestante, fala de uma queda dos anjos antes da queda do homem,
atribuída ao abuso do dom divino da liberdade. O consenso geral entre os
teólogos ortodoxos é que o mal moral ( o pecado ) monta o palco para o mal físico
( as desgraças naturais ), mas o modo exato como aquele provoca este
provavelmente permanecerá sempre um assunto de especulação humana”.
1.
Deus
não é o autor do pecado
Louis Berkhof diz “ O decreto eterno de Deus evidentemente deu
a certeza da entrada do pecado no mundo,mas não se pode interpretar io de modo
que faça de Deus a causa do pecado no sentido de ser ele o seu autor
responsável. Esta ideia é claramente excluída pela Escritura”. A Confissão de Fé de Westminster no capítulo V – DA PROVIDÊNCIA faz a
seguinte afirmação “IV. A onipotência, a sabedoria
inescrutável e a infinita bondade de Deus, de tal maneira se manifestam na sua
providência, que esta se estende até a primeira queda e a todos os outros
pecados dos anjos e dos homens, e isto não por uma mera permissão, mas por uma
permissão tal que, para os seus próprios e santos desígnios, sábia e
poderosamente os limita, e regula e governa em uma múltipla dispensarão mas
essa permissão é tal, que a pecaminosidade dessas transgressões procede tão
somente da criatura e não de Deus, que, sendo santíssimo e justíssimo, não pode
ser o autor do pecado nem pode aprová-lo. Isa. 45:7;
Rom. 11:32-34; At. 4:27-28; Sal. 76:10; II Reis 19:28; At.14:16; Gen. 50:20;
Isa. 10:12; I João 2:16; Sal. 50:21; Tiago 1:17.
2. O Pecado se originou entre os
anjos
É praticamente
consenso entre os teólogos que o pecado tem sua origem no mundo angelical,
antes de Adão ser formado. Alguns na tentativa de esclarecer a questão propõem
que Is 14.12-13 e Ez 28.11-19 refere-se à queda de Satanás num período
ante-Adão.
É o caso de J.
Dwigtht Pentecost em seu Manual de Escatologia,
que fazendo uso da passagem citada intitula “ O reino universal desafiado “ e
diz o que segue”... Um estudo cuidadoso dessas observações levará a conclusão
de que cada fase do pecado original de Satanás foi um ato de rebelião contra a
autoridade constituída de Deus, motivado pelo desejo cobiçoso de apropriar-se
daquela mesma soberania...”.
Embora concorde que o
pecado se originou no mundo angélico não defendo que as passagens de Isaías e
Ezequiel estejam se referindo a Satanás. Vejo tal interpretação um tanto
malabarista ( usa-se dos textos somente o que interessa para defender a teoria
), esforçando-se para afirmar o que o texto não afirma.
Quanto ao tipo de
pecado que ocasionou a queda dos anjos o texto de 1 Tm 3.6 lança luz ao dizer “.. não neófito, para que não se ensoberbeça e venha a cair na condenação do
Diabo.”. Logo, seria o pecado de orgulho.
3.
A
origem do pecado na história ou raça humana
É bem mais fácil
tratar do pecado e sua origem na história da humanidade uma vez que temos
muitos textos que tratam do assunto. É possível caminhar com mais luz.
O texto de Gn 2 e 3
nos permite entender que Adão foi posto no paraíso como nosso representante. O
problema é que Adão pecou, desobedeceu a uma ordem direta de Deus, Gn 2.16-17;
3.6.
Adão
representou a todos nós pela sua desobediência e pecado. O que ele fez foi, com
efeito, o que toda a sua posteridade, todos e cada um de nós, fez. Thomas
Manton expressa isto deste modo: “vimos o
fruto proibido com seus olhos,apanhamo-lo com suas mãos, comemos com sua boca;
isto é, fomos arruinados por aquelas coisas como se tivéssemos estado lá e consentido
com seus atos”.
O relato de
Gênesis 3, nos oferece todos os elementos que constituíram a entrada do pecado
na raça humana, que sem duvida podemos afirmar foi por um ato Livre de Adão, Rm
5.12.
A Confissão de Fé de Westminster ajuda-nos a ampliar nosso
entendimento no capítulo VI
- DA QUEDA DO HOMEM, DO PECADO E DO SEU CASTIGO e parágrafo I, ensina: Nossos primeiros pais, seduzidos pela astúcia e
tentação de Satanás, pecaram, comendo do fruto proibido. Segundo o seu sábio e
santo conselho, foi Deus servido permitir este pecado deles, havendo
determinado ordená-lo para a sua própria glória. Gen. 3:13; II Cor. 11:3; Rom.
11:32 e 5:20-21.
III.
CONSEQUÊNCIAS DO PECADO
Em sua Teologia
Sistemática Charles Hodge ao falar das consequências da queda apresenta o que
segue “ As consequências desse ato de desobediência foram: 1. Um senso imediato
de culpa e de vergonha. 2. O desejo e o esforço para ocultar-se da face de Deus.
3. A denúncia e imediata execução do justo juízo de Deus sobre a serpente,
sobre o homem e sobre a mulher. 4. A expulsão do jardim do Éden e a proibição de aproximar-se da Árvore da
Vida.
A Confissão de Fé de Westminster mais uma vez fornece-nos ricas
considerações sobre as consequências do pecado nos parágrafos que segue, eis: II. Por este
pecado eles decaíram da sua retidão original e da comunhão com Deus, e assim se
tornaram mortos em pecado e inteiramente corrompidos em todas as suas
faculdades e partes do corpo e da alma.Gen. 3:6-8; Rom. 3:23; Gen. 2:17; Ef.
2:1-3; Rom. 5:12; Gen. 6:5; Jer. 17:9; Tito 1:15; Rom.3:10-18.
III. Sendo eles o tronco de toda a
humanidade, o delito dos seus pecados foi imputado a seus filhos; e a mesma
morte em pecado, bem como a sua natureza corrompida, foram transmitidas a toda
a sua posteridade, que deles procede por geração ordinária. At. 17:26; Gen.
2:17; Rom. 5:17, 15-19; I Cor. 15:21-22,45, 49; Sal.51:5; Gen.5:3; João3:6.
IV. Desta corrupção original pela qual
ficamos totalmente indispostos, adversos a todo o bem e inteiramente inclinados
a todo o mal, é que procedem todas as transgressões atuais. Rom. 5:6, 7:18 e 5:7; Col. 1:21; Gen. 6:5 e
8:21; Rom. 3:10-12; Tiago 1:14-15; Ef. 2:2-3; Mat. 15-19.
Na
Confissão de Fé de Westminster Comentada por A.A. Hodge
ao comentar os parágrafos acima temos as seguintes sentenças:
Parágrafo II
1.
Que por este pecado eles foram
imediatamente cortados da comunhão com Deus.
2.
Que consequentemente perderam sua
justiça original.
3.
Ao mesmo tempo, se tornaram mortos em
pecado e totalmente corrompidos.
4.
Que essa corrupção moral se estendeu a
todas as faculdades e partes da alma e do corpo.
Parágrafos
III e IV
5. Que
adão foi a cabeça natural e federal de toda a humanidade.
6. Que
consequentemente a culpa ou responsabilidade pelas consequências penais daquele
pecado foi imputada, lançada na conta de todos os homens, e atualmente aplicada
sobre todos os homens desde seu nascimento.
7. Que
consequentemente a corrupção moral, que resulta do afastamento penal do
Espírito Santo de Deus no caso de nossos primeiros paias, é necessariamente
comunicada a todos os de sua descendência que são produzidos por geração
ordinária.
8. Esta
depravação hereditária inata da alma é total, pois por meio dela somos
totalmente indispostos, incapazes e antagônicos a todo bem e totalmente
inclinados ao mal.
9. Desta
depravação moral inata procedem todas as transgressões subsequentes.
A
doutrina do pecado e suas consequências é uma pagina dolorosa da história da
raça humana, é o retrato perfeito da alienação, evasiva e loucura humana. Ao
fazer tal afirmação somos imediatamente remetidos as palavras do profeta Isaías
59.1-2 “Eis
que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o
seu ouvido, para que não possa ouvir; mas as vossas iniquidades fazem
separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados esconderam o seu rosto
de vós, de modo que não vos ouça”.
CONCLUSÃO
Nesse estudo
vimos a definição de pecado, origem do pecado e as consequências do pecado.
Assim, entendemos que não podemos brincar de pecar, brincar com o pecado, pois
já conhecemos as consequências. Precisamos mais do que nunca levar esse tema a
sério começando por nós mesmos. É hora de despertarmos do sono, Rm 13.11-14 “ E isso
fazei, conhecendo o tempo, que já é hora de despertardes do sono; porque a
nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando nos tornamos crentes.
A noite é passada, e o dia é chegado; dispamo-nos, pois, das obras das trevas,
e vistamo-nos das armas da luz. Andemos honestamente, como de dia: não em
glutonarias e bebedeiras, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e
inveja. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo; e não tenhais cuidado da
carne em suas concupiscências”.
Autor: Líder da Igreja Presbiteriana de Tailândia no Pará. Bacharel em Teologia pela Faculdade Evangélica do Rio de Janeiro
OBS. Estudo simples cujo
objetivo é contribuir para o crescimento em graça e conhecimento dos servos de
Deus.
O conteúdo acima pode
ser copiado, compartilhado, utilizado em sites, blogs e etc. Desde que a fonte
seja citada.
http://www.suapesquisa.com/religiaosociais/sete_pecados_capitais.htm
A Confissão de Fé de Westminster foi elaborada a
partir de julho de 1643, e concluída em fevereiro de 1649. Nesse período houve
1163 reuniões do plenário e centenas de reuniões de comissões. O parlamento
inglês tinha como objetivo preparar uma nova base de doutrina, forma de culto e
governo eclesiástico. A CFW é um pequeno manual de teologia bíblica com 33capítulos.
Pentecost, J. Dwigtht. Manual de Escatologia, pg 442,443.