O lobista Jorge Luz, apontado como operador de propinas do PMDB, afirmou ontem, ao juiz Sérgio Moro que intermediou propina aos senadores Renan Calheiros (AL) e Jader Barbalho (PA) e também ao deputado Anibal Gomes (CE). Interrogado em ação penal sobre corrupção na Petrobrás, Luz relatou ao juiz da Operação Lava Jato ter usado a conta Headliner, em um banco na Suíça, para realizar os pagamentos ilícitos. Jorge Luz está preso preventivamente desde 25 de fevereiro por ordem de Moro. O filho dele, Bruno Luz, também está custodiado.
Segundo denúncia da força-tarefa da Lava Jato, pai e filho atuaram como representantes dos interesses de parlamentares e funcionários públicos da Petrobrás corrompidos para recebimento de propina em contratos de aquisição e operação de navios-sonda da Área Internacional da estatal.
A denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal no Paraná ao juíz Sérgio Moro diz que a diretoria internacional da Petrobras foi objeto de loteamento de cargos para a
obtenção de apoio político entre 2003 e 2008 com o diretor Nestor Cerveró e entre 2008 e 2012 com o diretor Jorge Zelada. Para a operacionalização desse esquema criminoso, havia um núcleo financeiro de operadores de propina que garantia que os pagamentos de propina chegassem ao seu destinatário final sem que os sistemas de controles detectassem o percurso dos valores espúrios.
De acordo com a denúncia, foram agentes no esquema criminoso Alberto Youssef, ligado ao PP, João Vaccari Neto, ligado ao PT, Fernando Soares (o Fernando Baiano), ligado ao diretor Nestor Cerveró, e João Henriques, Jorge Luz e Bruno Luz, ligados ao PMDB. As investigações revelaram a simulação da contratação de serviços de consultoria, o superfaturamento de serviços prestados, o envio de valores para o exterior através de operadores do mercado de câmbio negro e a circulação de valores em espécie com a utilização de empresas offshores registradas em nome de interpostas pessoas.
Um dos casos em que o esquema foi utilizado foi na contratação dos navios-sonda Petrobras 10.000 e Vitoria 10.000 da Samsung, e o contrato de operação do navio-sonda Vitoria 10.000, celebrado com a Schahin Engenharia. Segundo a denúncia, por volta de julho de 2006 (início das negociações) até 25 de fevereiro de 2008 (últimos pagamentos), o representante do estaleiro Samsung, Julio Camargo, ofereceu e prometeu aos colaboradores Fernando Soares e Nestor Cerveró e aos denunciados Jorge Luz, Bruno Luz, Demarco Jorge Epifânio e Luis Carlos Moreira, os dois últimos ex-funcionários da Petrobras subordinados a Cerveró, vantagem indevida no montante aproximado de US$ 15.000.000,00 (15 milhões de dólares), para que viabilizassem a contratação de um navio sonda Petrobras 10000 com o estaleiro Samsung Heavy Industries Co., na Coreia, no valor de US$ 586.000.000,00 (586 milhões de dólares), para perfuração de águas profundas a ser utilizado na África.
Outros US$ 25.000.000,00 (25 milhões de dólares) em propina foram pagos para que viabilizassem a contratação do Vitoria 10000 com o mesmo estaleiro coreano, no valor de US$ 616.000.000,00 (616 milhões de dólares), para perfuração de águas profundas no Golfo do México.
Os valores foram pagos por Julio Camargo a Fernando Soares e repassadas a Nestor Cerveró, Eduardo Musa, Jorge Luz, Demarco Jorge Epifânio, Bruno Luz e Luis Carlos
Moreira, por meio de operações de lavagem de capitais por intermédio de contas ocultas no exterior. Os pagamentos foram feitos entre 2006 e 2011. Os denunciados
Milton Schahin, Fernando Schahin, Jorge Luz e Bruno Luz incorreram no crime de lavagem de ativos, pois utilizaram de depósitos em contas ocultas no exterior e de dissimulação de prestação de serviços para esconder a origem espúria dos valores recebidos, que foram repassados pelos operadores aos respectivos partidos políticos para os quais operavam. No caso de Jorge Luz, os repasses foram feitos aos senadores peemedebistas Renan Calheiros e Jader Barbalho e ao deputado federal José Aníbal.
De acordo com a denúncia, em 2006, houve uma reunião na Petrobras, com a participação de Nestor Cerveró; convocada por Delcídio do Amaral e Silas Rondeau, então ministro das Minas e Energia, na qual houve pedido de apoio para a campanha do próprio Delcídio, então filiado ao PT, e de Renan Calheiros e Jader Barbalho, ambos do PMDB: que em troca os referidos políticos passariam a dar sustentação a Cerveró na diretoria que ocupava na Petrobras. Nestor Cerveró, então passou a contribuir com os políticos dos partidos indicados.
Inicialmente, foi repassado o valor de US$ 4 milhões de dólares aos políticos e em outra ocasião, também em 2006, US$ 5,5 milhões de dólares especificamente para Renan Calheiros e Jader Barbalho, conforme relatado em termos de colaboração de Nestor Cerveró e de Fernando Soares. Ambos, na mesma colaboração, disseram que Jorge Luz, que se dizia muito próximo de Renan Calheiros e Jader Barbalho. Eles também disseram que Jorge Luz era conhecido pelo depoente como lobista e ele tinha uma relação antiga com a Petrobras e que ficara responsável por fazer o acerto com os políticos: Jader, Renan, Delcídio e Silas.
RESPOSTAS
Renan, Jader e Anibal têm, reiteradamente, negado de forma enfática recebimento de valores ilícitos. Em nota ao Estado, o senador Jader Barbalho disse que “nunca teve conta na Suíça e que cabe a Jorge Luz provar ao juiz os depósitos, o número da conta e as datas”. Também diz que conhece Jorge Luz, mas jamais teve algum tipo de negócio. Diz ainda que “isso é declaração de criminoso que deve ser investigada pela Justiça”.
O senador Renan afirmou que conheceu Jorge Luz há mais de 20 anos e desde então nunca mais o encontrou. Disse ainda que não conhece nenhum dos seus filhos. Há 20 dias, o senador prestou depoimento ao juiz Sergio Moro como testemunha de Luz e reafirmou que a citação a seu nome é totalmente infundada.
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