domingo, 28 de dezembro de 2014

ESTUDO DO CAPÍTULO I DA CONFISSÃO DE FÉ ESCOCESA – 1560

Ministrado na Igreja Presbiteriana de Tailândia
Taciano Cassimiro
27/12/2014

Tema: De Deus

CAPÍTULO I DA CONFISSÃO DE FÉ ESCOCESA
De Deus

Confessamos e reconhecemos um só Deus, a quem, só, devemos apegar-nos, a quem, só, devemos servir, a quem, só, devemos adorar e em quem, só, devemos depositar nossa confiança. [1] Ele é eterno, infinito, imensurável, incompreensível, onipotente, invisível; [2] um em substância e, contudo, distinto em três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. [3] Cremos e confessamos que por ele todas as coisas que há no céu e na terra, visíveis e invisíveis, foram criadas, são mantidas em seu ser, e são governadas e guiadas pela sua inescrutável providência para o fim que determinaram sua eterna sabedoria, bondade e justiça, e para a manifestação de sua própria glória. [4]

I.                  A quem devemos confessar e reconhecer como Deus?

“ Confessamos e reconhecemos um só Deus...”

Dt 6.4  - Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR.

1 Co 8.6 -  todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também, por ele.

Is 44.5,6 -  Um dirá: Eu sou do SENHOR; outro se chamará do nome de Jacó; o outro ainda escreverá na própria mão: Eu sou do SENHOR, e por sobrenome tomará o nome de Israel.  Assim diz o SENHOR, Rei de Israel, seu Redentor, o SENHOR dos Exércitos: Eu sou o primeiro e eu sou o último, e além de mim não há Deus.

A esse único Deus vivo e verdadeiro devemos:

·         “ apegar-nos “ – Jo 6.55 : Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna.

·         “ servir “ – Ef 6.7: Servi ao Senhor com temor, e alegrai-vos com tremor. Servindo de boa vontade como ao Senhor, e não como aos homens. 

·          “ adorar “ – Ex 20.1-6 :   Então, falou Deus todas estas palavras: Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem, e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.

Jo 4.24 : Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade. 

 “ confiar “ – Sl 118.8 : É melhor confiar no Senhor do que confiar no homem.
                     Sl 118.9 : É melhor confiar no Senhor do que confiar nos príncipes. 

II.                Quem é Deus?

Paulo depois de falar de Deus, sua soberania e ação na história, diz em Rm – 11.33   Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! 34   Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? 35   Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? 36   Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!

De fato a Bíblia nos mostra a grandeza de Deus, Ele é o Outro, além de nós. Não é fácil descrever quem é Deus, como Ele trabalha. Mais uma coisa podemos dizer Ele sabe trabalhar na vida do seu povo.

A Confissão Escocesa faz uma lista absolutamente bíblica de quem é Deus atentando para seus atributos:

      ·         Eterno - 1 Tm 1.17
      ·         Infinito – 1 Rs 8.27
      ·         Imensurável – 2 Cr 6.18; Sl 139.7-12
      ·         Incompreensível – Gn 17.1-27; 18.1-15
      ·         Onipotente – 1 Tm 6.15; Dn 6.26
      ·         Invisível – 1 Tm 6.16

É importante notar que os teólogos escoceses preocuparam-se em reafirmar o ensino monoteísta das Escrituras Sagradas, a um só Deus, e ao mesmo tempo enfatizar sua triunidade “...um em substância e, contudo, distinto em três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo”.

Mt 28.19  - Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.
1 Jo 5.7 -  Pois há três que dão testemunho [no céu: o Pai, a Palavra e o Espírito Santo; e estes três são um.

A Confissão Escocesa segue o fundamento bíblico, histórico e confessional quanto à natureza de Deus, seus atributos e triunidade

O Credo dos Apóstolos documento cristão desenvolvido a partir do primeiro século, mais que somente alcançou sua forma por volta do século VI têm em seu conteúdo o ensino trinitário:

 “Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do Céu e da terra. Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria; padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; ressurgiu dos mortos ao terceiro dia; subiu ao Céu; está sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo; na Santa Igreja Universal; na comunhão dos santos; na remissão dos pecados; na ressurreição do corpo; na vida eterna. Amém”.

III.             As obras de Deus

Criação, Deus Criador
·         Ele é o criador de todas as coisas – Gn 1.1; Hb 11.3; Cl 1.15-16; Gn 1.1-31
Criou os seres espirituais (anjos); os corpos celestes ( Sol, Lua e Estrelas ); a natureza ( aves, peixes, árvores ); e criou o homem.
    Preserva, Providencia do Criador

          ·         A criação em geral é governada

" Um universo sem decreto seria tão irracional e espantoso como um trem viajando na escuridão da noite, sem farol e sem maquinista, e sem nenhuma certeza de que a qualquer momento poderia precipitar-se no abismo "
A.J. Gordon, apud L. Boettner, The Reformed Doctrine of Presdestination, p.21.

At 17.24-28 -  O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas. Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais; de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós; pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como alguns dos vossos poetas têm dito: Porque dele também somos geração.


        ·         A providência do Senhor é inescrutável ( não sabemos os seus caminhos )

           Decretos eternos

·         Seus decretos e fim é fundamentado na sua eterna sabedoria, bondade e justiça, para manifestação da sua própria glória.

Pv 16.4 -  O SENHOR fez todas as coisas para determinados fins e até o perverso, para o dia da calamidade.

A Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia afirma que o termo “Decreto” na Teologia indica “aqueles atos da vontade de Deus que:
1)      Representam o seu propósito;
2)      Estavam presentes com ele desde a eternidade passada;
3)      São cumpridos por ele dentro do tempo e do contexto humano;
4)      Determinam o curso da história, coletiva ou individualmente;
5)      Determinam o destino espiritual dos homens e dos anjos.


  
Conclusão

Com trechos das Confissões de Santo Agostinho

CAPÍTULO IV

As perfeições de Deus

 Que és, portanto, ó meu Deus? Que és, repito, senão o Senhor Deus? Ó Deus sumo, excelente, poderosíssimo, onipotentíssimo, misericordiosíssimo e justíssimo.
 Tao oculto e tão presente, formosíssimo e fortíssimo, estável e incompreensível; imutável, mudando todas as coisas; nunca novo e nunca velho; renovador de todas as coisas, conduzindo à ruína os soberbos sem que eles o saibam; sempre agindo e sempre repouso; sempre sustentando, enchendo e protegendo; sempre criando, nutrindo e aperfeiçoando, sempre buscando, ainda que nada te falte.
 Amas sem paixão; tens zelos, e estás tranquilo; te arrependes, e não tens dor; te iras, e continuas calmo; mudas de obra, mas não de resolução; recebes o que encontras, e nunca perdeste nada; não és avaro, e exiges lucro. A ti oferecemos tudo, para que sejas nosso devedor; porém, quem terá algo que não seja teu, pois, pagas dívidas que a ninguém deves, e perdoas dívidas sem que nada percas com isso?
E que é o que até aqui dissemos, meu Deus, minha vida, minha doçura santa, ou que poderá alguém dizer quando fala de ti? Mas ai dos que nada dizem de ti, pois, embora seu muito falar, não passam de mudos charlatães.


Obs. São simples anotações. Sinta-se a vontade para utilizar e fazer as alterações que julgar necessária.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

ENSINANDO A PALAVRA


                                 Aula de Teologia Sistemática na Igreja Presbiteriana de Tailândia.

domingo, 16 de novembro de 2014

ACERCA DAS CONTROVÉRSIAS CRISTIANAS ( CRISTIANISMO )


Por Taciano Cassimiro

Pasme ou não as controvérsias no cristianismo nasceram muito cedo. Já no primeiro século os apóstolos e presbíteros reuniram-se para tratar de assuntos concernentes a lei e ingressão dos novos conversos a fé em Cristo, Concílio de Jerusalém ( At 15 ). Após o período apostólico as mais diversas controvérsias surgiram, destacamos: a novaciana ( sobre o perdão de pecados graves após o batismo ); a donatista ( sobre a natureza da igreja, todos devem ser rebatizados e fazerem parte do donatismo ); o ebionismo ( Jesus é filho de José e Maria, mas foi adotado por Deus. Conhecemos essa crença como adocionismo ). Nesse período  grandes teólogos surgiram: Justino Mártir ( 100-165 ); Basílio, O Grande, de Cesaréia ( 370-379 ), e Agostinho de Hipona ( 354-430 ) um dos maiores teólogos e filósofos da igreja que lutou contra o pelagianismo, o donatismo e o maniqueísmo que dentro de seu sistema de crença defendia o dualismo, bem vs mal. Essa crença anda muito presente nos círculos evangélicos, a ponto de as vezes se ter a impressão, de que não pode existir Deus sem o diabo, pois tudo que se fala tem o coisa ruim no meio.

Nos períodos conciliares a igreja travou embates sobre doutrinas que hoje são aceitas por nós como fundamentais, e sua importância é tão relevante que a aceitação ou não de tais doutrinas (Trindade, Cristo verdadeiro homem e verdadeiro Deus, união hipostática das naturezas, O Espírito Santo é Deus verdadeiro ) são determinantes para afirmarmos ser um seguimento seita herética ou não. Dentre os concílios que ao todo foram vinte e um (incluo os concílios pós Reforma), destacamos o de Nicéia ( 325 ); Constantinopla ( 381 ) e Éfeso ( 431 ) por terem tratados de assuntos basilares de extrema importância como a natureza de Cristo e sua divindade entre outros.

Na Reforma Protestante as controvérsias continuaram: batismo ( aspersão, imersão, batismo infantil ); governo da igreja ( presbiteriano, episcopal ou congregacional );  doutrina da predestinação e livre-arbítrio; o sacramento da ceia ( transubstanciação, consubstanciação, simbólica ou espiritual ). Nesse período de não pouca duração destacamos alguns personagens como Martinho Lutero ( 1483-1546 ); João Calvino ( 1509-1564 ); Jacó Armínio ( 1560-1609 ). Da Reforma até nossos dias temos ainda  Willian Perkins, Jonathan Edwards, Charles Hodge, Karl Barth, John Gresham Machen, George Lad, Roger Olson e tantos outros.

Pois bem, meu propósito foi mostrar que as controvérsias fazem parte do cristianismo e sua história. Contudo o que me assusta são os embates atuais. Principalmente nas redes sociais onde surge os “ teólogos facebook ” que nenhuma consideração tem por seus irmãos, pois a ideia é desqualificar o outro por meio do debate, é vencer ou vencer. Geralmente tal debate é desprovido de conhecimento histórico, cultural, gramatical e teológico. Ainda citamos a falta de respeito que é uma constante. Homens conhecidamente piedosos, que estudaram e se especializaram na Palavra de Deus para melhor instruir o rebanho são taxados de “ velho gagá “, “ esclerosado “, “ frio “, “ sem o Espírito “ por noviços , e por aqueles que nada ou quase nada estudaram e se consideram expert em teologia, Bíblia. Debates que só fragiliza o corpo de Cristo, promotor de cizânia e muitas vezes a perda de afeto e amizade. Precisamos entender que mesmo na controvérsia é preciso haver respeito e caridade.  Unidade no essencial, liberdade no secundário, caridade em tudo.

As controvérsias não são ruim em si mesmas, embora elas possam vir acompanhadas de divisões. Na história elas nos proporcionaram a oportunidade de pesquisar e fundamentar melhor as doutrinas essenciais da fé. Acredito que precisamos olhar o lado positivo das controvérsias. As mesmas não precisam dividir-nos. Separar batistas, presbiterianos,  assembleianos e luteranos. É possível convivermos em paz, e compartilharmos o que nos une.

Em minha peregrinação tenho ministrado em igrejas batistas, assembleias de Deus ( diversas ramificações ), luteranas, metodistas. Adoro ao Senhor pelas oportunidades recebidas para compartilhar o amor, a fé e a esperança em Cristo, sem barganhar a verdade. Porém procurando sempre me conduzir entre os santos com sabedoria e sensatez.

Que Deus nos ajude!

Taciano Cassimiro, é líder da Igreja Presbiteriana de Tailândia. Bacharel em Teologia, palestrante e escritor. Leciona História, Sociologia e Filosofia.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

ESTUDO SOBRE ORAÇÃO


Por Taciano Cassimiro
Ministrado na Igreja Presbiteriana de Tailândia
11/11/2014

Falar sobre oração é fácil, difícil é pratica-la, é torna-la real em nosso dia a dia. Contudo somos ensinados nas Escrituras a orar sem cessar, 1 Ts 5.17.

Cristo Jesus é nosso exemplo maior, é nosso modelo de oração. Jesus começa sua vida pública, ministério, em oração. Vive seu ministério e relacionamentos com seus conterrâneos e discípulos, sem se descuidar da oração. É por isso que o encontramos por diversas vezes orando em lugares solitários ( Lc 5.16 ); no monte ( Lc 6.12; 9.28 ); em particular ( Lc 9.18 ); de madrugada procurou um lugar deserto para orar ( Mc 1.35 ); orou no jardim ( Mt 26.36-39 ). Jesus também termina sua vida pública e ministério terreno orando na cruz ( Lc 23.46 ).

Jesus não está nos ensinando que o lugar adequado de orar seja o deserto, o monte, o jardim ou pendurado em uma cruz. Está nos ensinando que temos que orar, buscar o Pai em todo tempo.

Afinal de contas o que é oração?

Alguns servos de Deus na história definiram de diversas maneiras, mais sempre enfatizando o relacionamento pessoal com Deus:

   Ø  John Bunnyan -  "Oração é um sincero, sensível e afeiçoado derramar do coração ou alma a Deus, através de Cristo, no poder e assistência do Espírito Santo; tais coisas, como Deus tem prometido ou de acordo com a sua Palavra, existem para o bem da Igreja com submissão em fé para com a vontade de Deus".

   Ø  Wayne Grudem – Oração é comunicação com Deus.

  Ø  João Calvino – O principal exercício da fé, mediante a qual recebemos diariamente os benefícios de Deus.

Nos dias em que vivemos a oração pode ser definida como “ O que se faz quando não se pode fazer mais nada “. Alguns perderam a noção do que é oração que chegam a dizer “ Vou aproveitar que não estou fazendo nada e vou orar “.

O Catecismo Maior de Westminster na pergunta 178. Que é oração? Responde da seguinte forma: 
Oração é um oferecimento de nossos desejos a Deus, em nome de Cristo e com o auxílio de seu Espírito, e com a confissão de nossos pecados e um grato reconhecimento de suas misericórdias. 
Sl 32:5,6;62:8; Dn 9:4; Jo 16:23,24; Rm 8:26; Fp 4:6.
 

Com base no Catecismo vamos trabalhar alguns pontos:

   1.      Por meio da oração entregamos nossos desejos nas mãos de Deus

De fato somos ensinados nas Escrituras a buscar a vontade do Pai, pois Ele sabe o que de fato necessitamos, e deseja nos conceder o melhor Lc 11.13. Assim em oração devemos lançar toda a nossa ansiedade sobre o Senhor ( 1 Pd 5.7 ).

A oração não é pra fazer Deus realizar a nossa vontade, mas manifestar a vontade Dele. Contudo ele nos ensina a perseverar em oração ( Lc 11.9-13 ).

Quando entregamos nossos desejos nas mãos de Deus precisamos confiar N”ele, é por isso que João Calvino dizia “ ...assim prostrados e subjugados de verdadeira humildade, sejamos, não obstante, animados a orar, com segura esperança de alcançar a resposta “.
Não esqueçamos a regra de ouro “ Pai seja feita a tua vontade “.

   2.      A oração deve ser em nome de Cristo

Alguns chegam afirmar que em toda oração você tem que terminar com “ ...em nome de Jesus” se não terminar assim Deus não responde, a oração não existiu. Não encontro esse legalismo nas Escrituras.

O Catecismo acredito que ajuda a entender bem essa questão na pergunta 180. O que é orar em nome de Cristo? Resposta: Orar em nome de Cristo é, em obediência ao seu mandamento e em confiança nas suas promessas, pedir a misericórdia por amor dele, não por mera menção de seu nome; porém derivando o nosso ânimo para orar, a nossa coragem, força e esperança de sermos aceitos em oração, de Cristo e sua mediação. 
Dn 9:17; Mt 7:21; Lc 6:46; Jo 14:13,14; I Jo 5:13-15; Hb 4:14-16. 

Portanto, necessariamente a oração não precisa terminar com “ em nome de Jesus “ , mas ser feita do início ao fim na sua dependência, confiando somente N’ele, em sua graça, poder e misericórdia.

Oração das boas é a que reconhece a soberania de Deus, que está disposta a fazer a vontade do Pai, marcada pelo perdão, pela dependência de segurança e, que reconhece que o poder e a glória pertencem ao Senhor.

   3.      A oração com auxílio do Espírito Santo

Mais uma vez o Catecismo nos ajuda a compreender esse ponto na pergunta 182. Como o Espírito nos ajuda a orar? Resposta:

Não sabendo nós o que havemos de pedir, como convém, o Espírito nos assiste em nossa fraqueza, habilitando-nos a saber por quem, pelo quê, e como devemos orar; operando e despertando em nossos corações (embora não em todas as pessoas, nem em todos os tempos, na mesma medida) aquelas apreensões, afetos e graças que são necessários para o bom cumprimento desse dever. Sl 10:17;80:18;Zc 12:10; Rm 8:26. 

O Espírito Santo não ora por nós, em nosso lugar. Mas que o Espírito se une a nós e transforma nossa oração em oração eficaz.

A Bíblia diz que:
Exultamos no Espírito Santo ( Ef 6.18 ); resolver ou decidir algo no Espírito ( At 19.21 ); consciência testemunhando no Espírito ( Rm 9.1 ), ter acesso a Deus no Espírito ( Ef 2.18 ).

Os textos apontam para união, cooperação do Espírito sem a qual não poderíamos ter êxito em nossas orações.

   4.      A oração é um momento de confissão

Na oração do Pai nosso está bem explicito ( Mt 6.12 ) que devemos pedir perdão pelas faltas cometidas. Isso nos remete a ideia de comunhão, pois uma vez purificados mais próximos estamos do Senhor. Deus nos chama a comunhão a todo tempo ( Ap 3.20 ).

Em 2 Crônicas 7.14 é dito que “ E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra”. 2 Crônicas 7:14.

O desejo do Senhor é perdoar nossas faltas, por isso em oração devemos confessar nossos pecados. O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia. Provérbios 28:13. As vezes esquecemos de confessar algum pecado especifico, sendo assim, não esqueçamos da oração de Davi “Quem pode entender os seus erros? Expurga-me tu dos que me são ocultos” Salmos 19:12.

Embora na oração possamos também interceder e adorar, é imprescindível a confissão, pois é por meio da confissão que obtemos perdão e a comunhão com o Senhor.

   5.      A oração meio para expressar gratidão

É obvio que Deus não precisa ser bajulado. Ele não pede de nós vãs repetições que massageei o “ego divino” , que lembre a Ele que é bom, gracioso e misericordioso. Nossa gratidão em oração deve partir de um coração sincero, quebrantado. Devemos nos espojar de” ....todo pensamento de glória própria, despir-se de toda noção de dignidade ( própria )... “ João Calvino.


Podemos então cantar as misericórdias do Senhor Salmo 136.1-26.


O texto pode ser compartilhado em blogs, redes socias e utilizado em estudos. Desde que a fonte seja citada.



sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Acerca dos 497 anos da Reforma Protestante

Por Taciano Cassimiro

A Reforma Protestante foi sem dúvida um dos acontecimentos históricos mais impactantes. A Reforma tem como ponto de partida o dia 31 de outubro de 1517 ocasião em que Martinho Lutero (1483-1546), padre, da ordem de Santo Agostinho, afixou na porta Catedral de Wittemberg as conhecidas 95 teses.

A Reforma não surgiu com o desejo de dividir a igreja. Seu propósito era reconduzir a igreja aos ensinos do Novo Testamento, era trazer a igreja ás Escrituras. Pois, principalmente no período medieval que começa no século V até XV a igreja se desviou de forma fragorosa dos ensinos de Cristo e dos apóstolos. Podemos apontar alguns dos desvios: Corrupção moral, venda de indulgências (perdão e misericórdia mediante pagamento), cobrança dos sacramentos, venda de relíquias sagradas, venda de cargos no clero e ignorância religiosa dos padres.
Diante deste quadro surgiu homens chamados historicamente de pré-reformadores, John Wycliffe ( 1328 – 1384 ) e John Huss ( 1369 – 1415 ), que denunciaram os erros da igreja, e enfatizaram a importância de colocar a Bíblia na linguagem do povo, estes foram mortos pela igreja acusados de heresia.

No cenário surge aquele que seria conhecido como o pai da Reforma, Martinho Lutero, que enfatizou as denúncias feitas pelos pré-reformadores. Lutero desejava ver a igreja reformada moralmente e teologicamente, não desejava dividi-la. A divisão foi consequência da dureza da igreja em não reconhecer seus erros e abusos. Em suma Lutero defendeu a salvação pela fé em Cristo somente, tradução da Bíblia, leitura e livre exame da mesma. Outros reformadores ocupam grande espaço na história da reforma como Ulrico Zwínglio (1484-1531) em Zurique, João Calvino ( 1509 – 1564 ) o grande reformador francês radicado na Suiça, John Knox ( 1514 – 1572 ) na Escócia. Estes foram grandes exemplos de amor e busca pela verdade. Longe estavam de ser perfeitos, no entanto demonstraram amor pela igreja e pela verdade contida nas Escrituras ainda que isso lhes custasse a liberdade e a vida.

Hoje 31 de outubro comemorasse o dia da reforma, mas na verdade o que temos a comemorar? Precisamos pensar sobre isso!

Pra bem da verdade a maior parcela das ditas igrejas evangélicas abraçam, flertam, adoram tudo aquilo que os reformadores combateram. Hoje igrejas evangélicas vendem em nome de Deus o que deveria ser pela graça, barganham benefícios espirituais, tapetes de fogo, sal grosso, campanhas (prosperidade e saúde) mágicas, e tudo isso reflexo da ignorância bíblica-teológica vigente entre os protestantes, parece que estamos voltando a Idade Média. O povo protestante cada vez mais, conhece menos de doutrina, de teologia ( alguns ainda preservam a ideia de que teologia é desnecessário, e quem a estuda não tem unção. Lamentável ). Acrescentamos a lista a corrupção moral, brigas políticas, guerras por cargos eclesiásticos, pastores que compram e não pagam ( velhaco ). As coisa andam bem complicadas.

Precisamos resgatar o legado deixado pelos reformadores, ou seja, amor pela verdade, pelas Escrituras, precisamos voltar a fonte, precisamos render-se a Deus. É preciso reconhecer que necessitamos urgentemente abandonar a idolatria gospel, as superstições, a negligência ao estudo da Bíblia e de outras ciências ( examinar tudo é necessário ). Precisamos viver de forma santa, firmados na Palavra, e assim protestar contra o estado de coisas que contraria os princípios do Reino de Deus. Afinal de contas desde 1529 somos conhecidos como protestantes.


Viva a Reforma Protestante!

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Jan Huss: coragem, resistência e fé


 Por Taciano Cassimiro 

Jan Huss ( Jan Huss ) foi um pré-reformador. Para a Igreja Católica um herege disseminador dos ensinos de John Wycliffe ( 1328 – 1384 )merecedor da mesma sorte, ou seja, a morte.

Vejamos alguns pontos relacionados a vida e obra de Jan Huss, no propósito de conhecermos um pouco sobre esta “grande pequena luz ” que ousou brilhar em meio as trevas da ignorância e opressão da igreja medieval.
  
    1.    Origem e formação

Huss nasceu em 1373 em Hussinec na Boêmia hoje Republica Tcheca. De família pobre que vivia da agricultura.  O nome Hus é a abreviação do seu lugar de nascimento, feita pelo próprio, em cerca de 1399; anteriormente era conhecido como Jan Hussinec, ou, em latim, Johannes de Hussinetz.

Huss, cedo, perdeu seu pai. Sua mãe sempre o incentivou na educação formal. Não foi um aluno brilhante, no entanto conseguiu seus graus:  Em 1393 ele fez o Bacharelado em Letras, em 1394 o Bacharelado em Teologia, e em1396 O Mestrado. Muito cedo Huss recebeu proeminência. Seu temperamento quente foi essencial para enfrentar os desafios que vieram em sua vida. Fazendo uso das afirmações de Martyn L. Jones à John Knox as uso em relação a Huss “ Que faremos com esse homem? Ele foi um homem para sua era; um homem para os seus tempos. Para épocas especiais são necessários homens especiais; e Deus sempre produziu tais homens...era necessário um homem forte, um homem austero, um homem corajoso; e esse homem era Huss”.

Teve de ganhar a vida cantando e prestando serviços na Igreja. E segundo alguns historiadores Huss sentiu-se atraído pela “profissão” clerical não tanto por um impulso interior mas pela atração de uma vida tranquila como clérigo. Porém o Senhor tinha seus planos e os consumaria na vida de Huss.

    2.    Seu Ministério


Jan Huss foi ordenado ao sacerdócio em 1400. Em1401 tornou-se reitor da faculdade de Filosofia, e em 1402, Huss se tornou pregador na capela dos Santos Inocentes de Belém em Praga, onde pregava em língua checa e latim. Huss era pregador eloquente e sincero, ele atraia todas as classes, desde os mais elevados aos mais simples, e, rapidamente tornou-se um dos homens mais influentes no país. A rainha o tornou seu confessor e, ela e suas damas assistiam suas pregações.  O Papa João XXIII lançou uma cruzada contra o Rei Ladislau de Nápoles, e ofereceu a remissão completa de pecados a todos os que participassem na guerra, ou a venda da indulgência para os que a suportassem. Ao ouvir tal notícia contrária a todos os preceitos bíblicos, Huss se levanta e ataca o papado de usar sanções espirituais e indulgências para fins pessoais e políticos. Em contra-ataque, Jan Huss foi excomungado e obrigado a deixar Praga em 1411, excomungado de sua congregação, todos os cultos, cerimônias de batizado e funeral que realizara foram anulados. Tal ato trouxe grande revolta aos cidadãos de Praga, os quais defenderam Huss que continuo a pregar de lugar em lugar e, geralmente, ao ar livre.
Huss defendia a pureza do clero, combatia os males da igreja, combatia a corrupção e à ostentação do clero, Huss, conquistou o apoio dos camponeses, dos artesãos e assalariados das cidades tchecas. Podemos afirmar que Huss à semelhança de Wycliffe foi essencialmente um reformador moral. Ele foi notável mais por seu elevado propósito ético do que pela especulação teológica. Huss em seu ministério defendeu a reforma da igreja baseada no exemplo de Cristo e na simplicidade apostólica.
Huss era respeitado até por seus inimigos por sua pureza, vida particular exemplar. Nas palavras de um de seus críticos sua reputação era “ pureza imaculada “.
Huss escreveu enquanto este preso a obra De Ecclesia, e também traduziu a Bíblia para sua língua materna, o tcheco.

    3.    Suas ideias teológicas

Jan Huss foi fortemente influenciado pelas ideias de Wycliffe, porém diferia em muitos pontos, geralmente em direção da moderação, e do conservadorismo.
Eis, algumas ideias defendidas por Huss:

      ·         A pregação livre da Palavra de Deus
      ·         O estudo das Escrituras
      ·         A Ceia administrada nas duas espécies ( o cálice e o pão  para os leigos )
      ·         Contra a venda de indulgências
      ·         Não era contra a sucessão apostólica, mas afirmava: “ A autoridade de Pedro permanece no Papa, desde que ele não se afaste da lei do Senhor Jesus Cristo “.
     ·         Pregava o Sacerdócio Universal dos Crentes, no qual qualquer pessoa pode comunicar-se com Deus sem a mediação sacramental e eclesial.

Na Idade Média surgiu homens intelectuais como Agostinho ( 354-430 ), Pedro Abelardo ( 1079-1142 ), Tomás de Aquino ( 1225-1274 ),  porém havia muita ignorância teológica entre o clero e membresia.

Huss viveu em um período de retorno as Escrituras, de idéias incipientes e revolucionárias, que alcançaria maiores contornos com Zwínglio, Lutero e Calvino.

    4.    Sua morte

Em 1414 Huss foi preso em Constança embora tivesse um salvo-conduto cedido por Sigismundo ( 1368-1437 ) Sacro Imperador Romano-Germânico. O Concílio de Constança ( 1414-1418 ) condenou os escritos de Wycliffe, e julgou Huss por apoiar alguns de seus ensinos. Para o Concílio Huss era um “ Wycliffe redivivus “. Huss permaneceu preso durante os sete meses de seu julgamento, e pouca oportunidade foi-lhe dada de se defender. Por fim, no dia 6 de julho de 1415, ele foi levado para a catedral de Constança. Ali, depois de um sermão sobre a teimosia dos hereges, ele foi vestido de sacerdote e recebeu o cálice, somente para logo em seguida lhe arrebatarem ambos, em sinal de que estava perdendo suas ordens sacerdotais. Depois lhe cortaram o cabelo para estragar a tonsura, fazendo-lhe uma cruz na cabeça. Por último lhe colocaram na cabeça uma coroa de papel decorada com diabinhos, e o enviaram para a fogueira. A caminho do suplício, ele teve de passar por uma pira onde ardiam seus livros. Huss morreu cantando o hino em grego “Kyrie eleeson” (Senhor, tem misericórdia). O local de sua morte é marcado até hoje com uma pedra memorial. Como Wycliff, Huss lutou pela reforma da Igreja pagando o preço com sua vida. 
As palavras de Huss aos seus inquisidores que queriam que o reformador abandonasse suas doutrinas foram firmes:
 “ Apelo a Jesus Cristo, o único juiz todo-poderoso e totalmente justo. Em suas mãos eu deponho a minha causa, pois Ele há de julgar cada um não com base em testemunhos falsos e concílios errados, mas na verdade e na justiça”. 
Antes de ser queimado, Hus disse as seguintes palavras ao carrasco: "Vocês hoje estão queimando um ganso (Hus significa "ganso" na língua boêmia), mas dentro de um século, encontrar-se-ão com um cisne. E este cisne vocês não poderão queimar." Costuma-se identificar Martinho Lutero com esta profecia (que 102 anos depois pregou suas 95 teses em Wittenberg), e costumeiramente se costuma identificá-lo com um cisne.

Após a morte de Huss sua influência não acabou, seus seguidores deram continuidade com os seguintes partidos:

 ·         Hussistas de Praga: rejeitavam só o que contradizia os ensinos da Bíblia
      ·         Taboritas: revolucionários apocalípticos que se opunham a tudo o que não estivesse na Bíblia. Alguns do grupo taborita formaram aquilo que ficou conhecido como Unitas Fratrum (Irmãos Unidos) ou Irmãos Boêmios em meados do século XV. Foi deste grupo que saiu a Igreja Morávia, que até hoje existe. A Igreja Morávia tornou-se mais tarde numa das igrejas de mais visão missionária da história da Igreja Cristã.
       ·         Comunidade de Monte Horebe: menos apocalíptica.

Conclusão

Jan Huss servi-nos de inspiração em nossa peregrinação teológica, ministerial e prática.
Muitas são as aflições dos servos de Deus, porém fomos chamados para o serviço, para o ensino da verdade de Deus, ainda que nos custe a existência. Que o exemplo de dedicação, resistência, coragem e fidelidade de Huss, sejam por nós seguidos para glória D’aquele que nos chamou.


Louvado seja o Senhor!