Por Taciano Cassimiro
Esboço da palestra de 16 de Setembro de 2012, IPB de Tailândia-PA
Michael
Green
"O
esquecimento do ensino e das
advertências
de Deus na Escritura é uma das causas principais da
deterioração espiritual."
De fato Judas é um texto ignorado e estranho. Ignorado talvez por ser um
texto curto, escondido entre tantos outros livros e de entendimento um pouco
difícil. Estranho, por citar com frequência textos apócrifos: Livro de Henoc;
Assunção de Moisés; Testamento dos Doze Patriarcas, e segundo alguns estudiosos
Judas bebeu na fonte conhecida como Testamento de Moisés, principalmente, no
versículo 16.
Agora vem a pergunta, Por que foi aceita como livro inspirado? Ela aparece pela primeira vez como texto
canônico em torno do ano 180 ( quase um século depois de escrita ), e o motivo
mais importante parece ter sido a “ carona “ que ganhou da segunda carta de
Pedro.
O critério, portanto, parece ter sido este: o fato de Pedro citar a
carta de Judas é prova suficiente para que Judas seja considerada texto
inspirado.
Autoria e Data
Sabemos
que este era um nome comum entre os judeus, temos: Judas Macabeu que organizou
a revolta judaica ( 166-160 a. C ); Judas Iscariotes que foi discipulo de
Jesus, este aparece sempre em ultimo lugar e sempre identificado como traidor (
Lc 6.16; Mt 10.4 ); Judas chamado de Galileu, chefe de rebelião na província da
Galiléia contra a presença dos romanos Em 6 d.C ( At 5.37 ); e Judas de Damasco, habitante da rua
direita na cidade de Damasco, onde o apóstolo Paulo ficou hospedado. (Atos dos
Apóstolos 9,11).
Os
estudiosos de acordo com a tradição afirma ser Judas o irmão do Senhor Jesus o
autor da carta.
A
carta era aceita como autorizada por Atanásio ( 298-373 d.C ) e pelo Concílio
de Cartago ( 28 de Agosto de 397 d.C ).
A
epistola de Judas provavelmente entrou em circulação entre os anos 70 e 80,
alguns afirmar ter sido no ano 75 d.C.
A quem se destinava?
A semelhança com as cartas de João são imensas, porém, isto não
significa dizer que Judas estava escrevendo para a mesma comunidade.
O fato de Judas citar constantemente o Antigo Testamento e a textos
judaicos apócrifos nos leva a crer que a comunidade em sua maioria era composta
por judeus.
Exposição
V.1 e 2 –
* O escritor se identifica como sendo Judas, servo de Jesus Cristo. Embora sendo irmão, se apresenta como
um servo do Reino de Cristo.
*Judas faz algumas afirmativas iniciais:
“ ...os que foram chamados’, também são “guardados”
em Cristo Jesus.
Temos aqui princípios básicos da Fé Reformada “ Eleição e Perseverança
dos Santos”.
Quanto a ELEIÇÃO a Confissão de Fé de
Westminster, capitulo 3, seção 5, diz: Segundo o seu eterno e imutável propósito, e
segundo o santo conselho e beneplácito de sua vontade, antes que fosse o mundo
criado, Deus escolheu em Cristo, para a glória eterna, os homens que são
predestinados para a vida; para o louvor da sua gloriosa graça ele os escolheu
de sua mera e livre graça e amor, e não por previsão de fé, ou de boas obras e
perseverança nelas, ou de qualquer outra coisa na criatura que a isso o
movesse, como condição ou causa.
Quanto a Perseverança dos Santos, capitulo
17, diz: 1. Os que Deus aceitou em seu Amado,
eficazmente chamados e santificados pelo seu Espírito, não podem cair do estado
de graça, nem total nem finalmente; mas com toda a certeza hão de perseverar
nesse estado até ao fim, e estarão eternamente salvos.
2. Esta perseverança dos santos
depende, não do próprio livre-arbítrio deles, mas da imutabilidade do decreto
da eleição, procedente do livre e imutável amor de Deus Pai, da eficácia do
mérito e intercessão de Jesus Cristo, da permanência do Espírito e da semente
de Deus neles, da natureza do pacto da graça e de tudo o que gera também a sua
exatidão e infalibilidade.
Isto nos ajuda a entender a firmeza doutrinária de
Judas, não estou afirmando que Judas tivesse em mente o termo calvinismo, e de
fato não tinha,porém, o que o calvinismo defendeu no século XVI, nossos
primeiros pais já defendiam no primeiro século.
V 3 e 4 – Escrever, mudança de assunto,
perigos na vida da igreja
1. Judas queria escrever sobre a fé comum (
oração, vida comunitária )
2. Mudança brusca de conteúdo ( agora é guerra )
3. Perigos na vida da igreja:
Indivíduos se introduziram na congregação, e
seus ensinamentos tinham duas vertentes:
1. Eram libertinos, verdadeiros antinomistas,
contrários a lei de Deus. Repudiavam qualquer tipo de restrição moral (
praticavam o homossexualismo e prostituição ) por acreditar que as
consequências das ações por meio do corpo não trariam mal ao espírito.
2. Negavam ao Senhor, sua deidade.
Ameaça gnóstica:
O gnosticismo nos dias de Judas era embrionário,
com o tempo tornou-se um dos maiores desafios do cristianismo. No segundo
século Irineu de Lião ( 130-200 d.C ) escreveu “ Adversus Haereses ( 180-185 )“
para refutar os ensinos gnósticos que eram basicamente: a matéria é má e o
espírito é bom, necessidade de conhecimentos especiais ( Jesus lhes passou informações
secretas nos 40 dias após a ressurreição ). Irineu pregou o retorno as
Escrituras afirmando que a mensagem de Cristo está nos evangelhos.
Nos dias de Judas basicamente os gnósticos
negavam a deidade do Senhor. Judas deixa bem claro que Jesus é o Senhor, que
Jesus é Deus.
Aplicação: Os perigos da busca por revelações
especiais, sede do oculto e misterioso. A Bíblia é a voz de Deus, é o sopro de
Deus. Theópneustos – é a união de duas palavras gregas: theós ( Deus ) e Pneuma
( sopro, espírito ). Por isso quando estamos lendo a Bíblia estamos ouvindo
Deus falar ( soprar ) em nossos corações. Não é uma experiência mágica, como
muitos que procuram a voz de Deus em muitos lugares menos na sua Palavra. Mas é
o ensino escrito do Espírito Santo ministrando nos corações apresentando os
propósitos e planos de Deus para a salvação do homem.
3. V.
5 - 7 – Exemplos da história: Certeza de
castigo:
1. Israelitas tirados do Egito v 5
2. Os anjos v.6
Teses:
Os
três principais pontos de vista sobre a identidade dos filhos de Deus são: 1) eles eram anjos caídos, 2) eram poderosos governantes humanos,
ou 3) eles eram descendentes devotos
de Sete se casando com os descendentes ímpios de Caim.
3. Sodoma e Gomorra v.7
V. 8 – 13 O perfil desses falsos mestres
São Sonhadores, impuros, difamadores de autoridades superiores (
eclesiásticas ou espirituais ), corrompidos, pastores de si mesmos.
O caminho que eles trilham, não é o de Cristo, embora estejam na
comunidade cristã:
1. Caminho de Caim – morte, violação da
fraternidade ( Gn 4.3,4; Nm 22.1-35; 1 Jo 3.12 )
2. Caminho de Balaão – cobiça, lucro e
imoralidade ( 2 Pd 2.15; Cl 3.5; Ap
2.14 )
3. Caminho de Coré – Insubordinação e
revolta ( Nm 16.1-35; 3 Jo
9,10 )
Os falsos mestres terão o mesmo destino, é certo o castigo.
Nesse ponto vale acrescentar
um texto de Karl Barth, sobre o
falso profeta, transcrito do
Informativo Liderança Cristã, publicado
pela Visão Mundial:
"O falso profeta é o pastor que agrada a todo mundo. Seu
dever é dar testemunho de Deus, mas ele não vê a Deus e prefere
não o ver porque vê muitas outras coisas. Segue seus
pensamentos humanos, conserva-se interiormente calmo e seguro,
evita habilmente tudo quanto incomoda. Não espera senão poucas
coisas ou mesmo nada da parte de Deus. Pode calar-se, mesmo
quando vê homens atravancando seus caminhos de pensamento,
de opiniões, de cálculos e de sonhos falsos, porque eles querem
viver sem Deus. Retira-se sempre quando devia avançar. Comprazse
em ser chamado pregador do evangelho, condutor espiritual e
servidor de Deus, mas só serve aos homens. Sonha, às vezes, que
fala em nome de Deus, mas não fala a não ser em nome da Igreja,
da opinião pública, das pessoas respeitáveis e da sua pequena
pessoa. Ele sabe que desde agora e para sempre os caminhos que
não começam em Deus não são caminhos verdadeiros, mas não
quer incomodar nem a si mesmos, nem aos outros; por isso é que
pensa e diz: 'Continuemos prudentemente e sempre alegres em
nossos caminhos atuais; as coisas se arranjarão.' Ele sabe que
Deus quer tirar os homens da impiedade e que a luta espiritual
deve ser travada. No entanto, prega a 'paz', a paz entre Deus e o
mundo perdido que está em nós e fora de nós. Como se tal paz
existisse! Sabe que seu dever consiste em proclamar que Deus cria
uma nova vontade, uma nova vida; mas não, ele deixa reinar o
espírito do medo, do engano, de Mamom, da violência — a muralha
construída pelo povo (Ez 13.10), o muro oscilante e manchado. Ele
o disfarça pintando de cores suaves e consoladoras da religião
para
o contentamento de todo o mundo. Eis aí o falso profeta."
V. 14 – 19 - O surgimento dos falsos mestres era previsto
1. Enoque anunciou a ruína deles v 14 – 16
2. Os apóstolos também previram 17 – 19
A igreja não foi pega de surpresa, a mesma tinha sido avisada, e deveria
está preparada.
V. 20 – 23 – Exortação às comunidades
1. Construir sobre o alicerce da fé
2. Orar movidos pelo Espírito
3. Manter-se no amor de Deus, esperando a vida eterna
4. Convencer os vacilantes
5. Salvar uns, arrancando-os do fogo
6. Ter compaixão de outros, com temor
7. Detestar até a roupa contaminada dos ímpios
V. 24-25 - DOXOLOGIA
A Bíblia de Estudo Genebra em seu comentário dos versiculos 24 e 25: À semelhança de Romanos 16.25-27, a conclusão de Judas é uma doxologia que expressa confiança no poder de Deus para preservar o seu povo até o fim e que reconhece a eterna grandeza de Deus em sua " glória, majestade, domínio e poder".
Rei e Senhor, Deus, que tiveste misericórdia de mim, Rei todo-poderoso e compassivo, todos os teus eleitos precisam de ti, assim como os ramos precisam da videira, como o olho precisa da luz. Sem a videira, os galhos murcham e quando falta a luz, tudo escurece. Assim te invoco em humildade, ó todo-poderoso, gracioso, glorioso triúno Deus.
Monge Gottschalk, 805-868
Um comentário:
Taciano meu irmão de fé, vou utilizar parte do seu estudo na EBD em nossa IPB.
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